A
presidente Dilma Rousseff disse que vai pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF)
acesso ao depoimento do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa dentro do
processo em que ele é beneficiado pela delação premiada. Enfática, Dilma disse
que "não é possível" a imprensa ter informações e que, como
presidente da República, não pode tomar providências com base no "disse me
disse". A petista disse que vai fazer o pedido ao ministro Teori Zavascki,
que é o relator do caso no STF. Para a candidata, o papel da imprensa "não
é de investigar e sim de divulgar informações".
A reação de Dilma ocorreu porque o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, negou acesso ao depoimento de Paulo Roberto Costa.
Ela disse que não faz prejulgamentos e que, sem as informações oficiais, não
pode "tomar providências". Para Dilma, a impunidade é o maior mal do
país atualmente.
— Pedirei ao ministro Teori a mesma coisa: quero ser
informada se no governo tem alguém envolvido. Não tenho porque dizer que tem
alguém envolvido, porque não reconheço na revista "Veja" e nem em
nenhum órgão de imprensa o status que tem a PF, o MP e o Supremo. Não é função
da imprensa fazer investigação e sim divulgar informações. Agora, ninguém diz
que a informação é correta. Não prejulgo, mas também não faço outra coisa: não
comprometo prova. Porque o câncer que tem nos processos de corrupção é que a
gente investiga, investiga, investiga e ainda continua impune — disse Dilma,
acrescentando:
— Não é possível que a revista "Veja" saiba de uma
coisa e o governo não saiba quem é que está envolvido. Pedi primeiro para a PF,
que me disse: não posso entregar, a investigação está em curso e peça ao MP. E
o MP me disse a mesma coisa: se ele me disser, ele contamina a prova. Se ele me
disser, ele contamina a prova.
E reiterou, irritada:
— Quando sai uma denúncia na "Veja" ou em qualquer
outro jornal, eu não tomo medida, porque sou presidente da República, baseada
no disse me disse. Tomo medida baseada inclusive naquilo que sou a favor, que é
da investigação absoluta. Vamos deixar uma coisa clara aqui: Quem é que
descobre as práticas de corrupção no Brasil? A PF. Porque a PF tem hoje uma
autonomia integral para investigar quem quer que seja. No Sempre que vazam
informações que estão em investigação, sabe o que acontece? Compromete-se a
prova. O MP denuncia e não pode ser condenado, porque a prova foi comprometida.
Não é possível que alguém queira que a fonte de investigação no Brasil não
sejam os órgãos oficiais. E são PF, MP e Judiciário.
Para Dilma, os crimes ficam impunes no Brasil por causa do
vazamento de informações.
— O que queria saber? Queria saber sim, para eu tomar
providências. O que eles me dizem? Se entregar a prova para você, estarei
comprometendo a investigação. Acho que nessa investigação, ela está sendo
diferente. A própria revista Veja diz que o inquérito, os depoimentos, a
delação estão criptografados e guardados num cofre. Isso significa que nenhuma
das falas é garantida. Ninguém sabe o que é — disse a presidente, afirmando que
tem um "imenso compromisso contra a impunidade":
— O pai no sentido de protetor, o compadre do crime de
corrupção, do crime de lavagem de dinheiro, do crime financeiro é um só: a
impunidade. Pode saber que criar condições para (combater ) impunidade, é uma
coisa que o país tem de avançar. Antes, tinha o engavetador- geral da
república. Hoje, tem um procurador-geral da República que investiga e tem
autonomia.
A presidente se irritou ao ser perguntada sobre a declaração
de Paulo Roberto de que teria recebido R$ 1,5 milhão de propina no processo de
compra da refinaria Pasadena. Ela já tinha encerrado a entrevista e voltou para
falar sobre o assunto.
— Se você me disser para quem ele disse, quem disse e como é
que disse, eu respondo. Recebo informações de juiz, de procurador e de delegado
da PF. Sou a favor de investigar, nada colocar para debaixo do tapete. Acho que
o maior mal atual é a impunidade. Se investiga, descobre o mal feito e não
condena, cria a sensação de que não teve pena nenhuma. Sabe por que protege com
a impunidade? Porque você não prende, não pune e só tem um jeito: tem que punir.
Por isso é que se diz: tolerância zero — disse ela, irritada e falando enquanto
caminhava na rampa interna do Palácio da Alvorada.
Dilma ainda criticou a especulação na Bolsa de Valores e no
mercado financeiro com base no resultado de pesquisas eleitorais.
— Acho ótima a reação da Bolsa. Quando a Bolsa cai, eu falo:
será que eu subi? Tá ficando ridículo isso. Especulação tem limite! E acho que
tem gente ganhando com isso. Eu não sou, eu perco, tá? Acho desagradável o fato
de acharem que uma coisa está vinculada à outra. Quando sobe, ou quando desce.
Não comentei e não comento pesquisa nem quando sobe e nem quando desce. Nunca
comentei na vida — disse, irônica.
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